terça-feira, 5 de novembro de 2013

Meus três “Rainy days and Mondays always get me down” (The Carpenters)

Todos temos lembranças de dias maravilhosos, marcantes, de sol perfeito, temperatura ajeitada por Deus pra nos deixar felizes, mas também tem aqueles dias em que esse sol estampado no céu não nos atinge, não nos aquece e não consegue fazer a mágica da felicidade acontecer.

Tenho guardado aqui no cabeção os três dias mais tristes dessa minha jornada incrível de 32 primaveras.

No primeiro deles eu ainda estava no começo da adolescência, estudava no Rosolia. A professora nos orientou a formar grupos para a apresentação de trabalho e a nomeá-los como bem quiséssemos. Alguns escolheram rapidamente e outros grupos, como o meu, ficaram pensando demais. Eis que uma garota de outro grupo resolve meter o bedê na escolha do meu grupo e com a maior infelicidade desta galáxia DETERMINA: “Ah! Coloca o nome do grupo de Rainha do Egito!”. Todas as meninas do grupo em que eu estava demonstraram o descontentamento com a intromissão da senhorita A. Magalhães (desta desgraçada eu não esquecerei o nome jamais), já eu nunca senti tamanho constrangimento em toda minha vida (32 primaveras). E a professora, hein??? Infelizmente não me recordo do rosto e nem do nome desta criatura imbecil pra socar na boca do sapo, só sei que a professora acatou a sugestão da garota e contribuiu para o meu primeiro dia mais triste. Lembro-me como se fosse hoje, naquele final de tarde resolvi nunca mais ir à escola e chorei o resto do dia.

O segundo dia mais triste me ocorreu com a notícia de que meu vovozinho Manoel estava muito doente, ele já era quase centenário. Seu Manezinho, como era conhecido, era um vovozinho bem caricato de interior, cabelos brancos, pele morena enrugadinha, caminhava lentamente pezinho atrás de pezinho e sorria com os olhos. A casa dele tinha um cheiro gostoso de fumo (me chame de louca, vai, eu deixo!!), ele costumava comprar fumo desfiado, palha para cigarro e com as mãos firmes confeccionava o próprio cigarro. Sua casa tinha poucos móveis e utensílios, apenas o necessário para um senhor interiorano idoso, tudo era limpo e arrumadinho. A essa altura de sua vida a capacidade de resiliência do corpo já não é a mesma e ele já convivia com um câncer que a idade não lhe permitia fazer qualquer intervenção sem antecipar o inevitável. Vi o meu vovozinho poucas vezes na vida, 500 km nos separavam. Quando criança as férias dos meus pais nunca coincidiam para que a família pudesse viajar junta, éramos três crianças pequenas e meu irmão mais velho. Viajar com uma moçada assim exige planejamento, grana e cuidados com a alimentação, estadia e a vestimenta. Quando me tornei adulta já não dependia dos meus pais e passei a vê-lo com mais frequência, rolaram uns bate-e-volta, nas minhas férias eu conseguia viajar com meu pai e até mesmo com minhas irmãs. Eu tinha quase trinta anos quando voltei do trabalho e minha mãe com todo o cuidado do mundo me disse que meu vovozinho estava internado, quase morrendo. Chorei até dormir, acordei com os olhos inchados e não conseguia falar sobre o assunto sem chorar copiosamente. Providencialmente, um feriado prolongado se aproximou, e então eu e minhas irmãs fomos ao interior para vê-lo, meu pai já se encontrava lá há muitos dias. Ao deixarmos a casa do meu vovozinho para voltar a São Paulo me lembro de rezar com toda a fé do mundo para que o Senhor fosse misericordioso e não permitisse que ele sofresse. Eu estava crente de que seria a última vez que o veria vivo. Este foi o segundo dia mais triste da minha vida. Meu avô viveu mais alguns anos, eu o visitei mais algumas vezes e em agosto/2012 o Senhor o recolheu para um merecido descanso.

O terceiro dia mais triste foi quando com muita dor no coração decidi dar ao meu cachorro a oportunidade de viver em um grande quintal com um amiguinho peludo. Eu o doaria para uma amiga que procurava um cão grande para fazer companhia para seu cachorro, pois eu estava para me mudar para minha própria casa, onde não permitiam cachorros de grande porte (esses condomínios novos tem um regulamente interno com algumas regras que não entendo. Tem pessoas por aí que perturbam a paz e cachorros não). Foram dias terríveis, ponderei sobre o meu egoísmo em querer o Goku perto de mim e dentro de um apartamento pequeno, ponderei sobre a separação do meu peludo, sobre ele ter mais espaço e ter companhia canina full time. Decidi por dar uma vida mais digna ao meu Goku, longe do meu convívio diário, mas com um espaço mais apropriado para que ele fosse um cachorro mais feliz e com a garantia de uma amiga zelosa e apaixonada por cães. Dormi chorando e no dia seguinte minha mãe me acordou muito delicadamente com os dizeres “Seu pai falou que não é para você doar o Goku, porque na casa dos outros ele não vai poder subir no sofá!”. Desculpa pra lá de esfarrapada, era tudo o que eu precisava ouvir e teve fim o terceiro dia mais triste da minha vidinha de 32 primaveras.

O Goku? Ah... Está aqui arrombando as portas, roubando tapetes, mordendo chinelos, me recebendo todos os dias como se eu fosse uma pop star internacional, a cada amanhecer fica mais lindo, mais carinhoso, mais manhoso, mais mimado e me salvando dos demais dias mais tristes da minha vida.

Cachorros são ótimos terapeutas.



Cléo F. Alves
S. P.
05/11/2013




Check Up, missão MacGyver

Além de tentar ser cuidadosa com a aparência eu faço o que posso para conservar a saude, vou ao médico periodicamente e faço exames preventivos e de rotina (Rotina... Rotina... Não sei de quem é essa rotina de ter seu sangue tirado, cérebro fotografado dentre outras partes do corpo. A minha que não é!)

Tentei marcar todos os exames para o mesmo dia e antes do meu retorno aos médicos, o que se revelou missão MacGyver (agendas lotadas em vários laboratórios, cruz credo!). Cogitei ir de condução, mas como se o digníssimo senhor prefeito tirou a linha que passava aqui na rua? O tempo que eu levaria até o metrô para depois pegar um ônibus seria o tempo de já estar no laboratório sendo virada do avesso. O dono do estacionamento ficou feliz com os meus caraminguás.

Às 7:00 da matina estou eu lá no laboratório bicuda por causa do preparatório que é “O Óh”. Tive que lavar o cabelo (até aí sem novidades) sem usar cremes, condicionador, gel, spray (olha o golpe aí, minha gente!!) e ir alimentada. Cara, eu acordo com o estômago em um planeta que ainda não foi descoberto, fome zero e se forçar a nega chama o “Ugo”. Lavar o cabelo sem usar condicionador, creme, gel, spray, defrizante ou óleo já é sacanagem. Ninguém conhece o meu fuá melhor do que eu!! Eu e meu cabelo PRECISAMOS de cremes.

Raio X do cabeção, seios da face e eletroencefalografia para ver a quantas andam o Tico e o Teco. Faço primeiro o eletro, a moça pergunta se levei toalha (Eita pega! Nem lembrei!) e me besunta o cabeção com uma graxa branca com cheiro enjoativo para grudar alguns eletrodos. Abre olho, fecha olhos, respira assim, respira assado e acabou o exame. Meu, como se já não bastasse ter saido de casa sem dar um tapa decente na cabeleira, fiquei com o cabelo todo embaraçado e gosmento. A tal da graxa não deixava os dedos deslizarem pra tentar ajeitar o que não tinha mesmo muito conserto. Meti uns papeis toalha na cabeça e fingi ter limpado aquele “rendezvous” de lesma na minha cabeça. Fiz um coque-coitado e desci para fazer o Raio X. Passado aquele momento tenso de ter meu nome anunciado em megafone, entro na sala, deito naquela mesa feia e metalizada e não sei por que cargas d´água falei que a louca lá de cima tinha me zuado o cabelo com o eletro. A moça do Raio X disse “Ah... Então não pode fazer o exame. Vai ter que lavar o cabelo e voltar mais tarde”. PQP!! Por que a antinha mór da recepção me orientou a fazer os exames na sequência errada? Menina burra, #$%&!! Só não fiquei mais emputecida porque eu teria que voltar ao laboratório às 11:20 para fazer outros exames de imagem.

Voltei para casa, lavei o cabelo e retornei às 10:40, tempo de sobra para refazer as radiografias e na sequência fazer os outros exames das 11:20, certo? Ledo engano. Aquela birosca estava lotada, com neguinho saindo pelo ladrão. Fui atendida depois de 40 minutos e a máquina que cospe as chapas simplesmente comeu as minhas. Pois é, a máquina de Raio X também atola feito impressora. Sinceramente, não vi o momento em que um urubu cagou na minha cabeça!! Que zica!!! Tive que refazer as radiografias.

Tomei tanta radiação que já estou me antecipando e alertando os amigos para não se assustarem quando nascer um braço na minha bunda.

Dia cansativo, nada saiu do jeito que eu queria. Mas não tem nada não! Amanha eu tento outra vez.

Cléo F. Alves
S. P.
05/11/2013

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

What is your name?

O que tem demais nesta simples pergunta, seja ela na língua que for? Para você, simples mortal, nada! Para mim sempre foi motivo de tensão, o coração dispara, as orelhas pegam fogo e minha sorte é que preto não fica vermelho, senão a personificação de uma criatura constrangida seria a nega aqui.

Para os que não sabem, meu nome é Cleópatra. Tem que ter peito pra sustentar um nome forte feito este (se bem que agora não tenho mais taaaanto peito..rs..). Imagina quantas vezes me cantarolaram a música da cobra da Cleópatra? E as piadas na escola? A cada ida ao médico, dentista ou qualquer outro lugar em que me anunciam neguinho quase sai do banheiro subindo/abotoando as calças para não perder a oportunidade de ver a mulher de marte. E as pessoas são tão criativas.... “E o Júlio Cesar/Marco Antônio?”. Solto logo um “Sabe há quantos anos me fazem essa pergunta inovadora?”

Hoje em dia não posso ser mentirosa e dizer que é tudo superado. Ser interrogada com um “Ai... Por que seu pai te deu este nome?” é de lascar. As pessoas me olham e veem o gato de botas fazendo aquela cara de meu pão caiu no chão com a manteiga para baixo, mendigando afagos e carinhos. Bando de fdp!! Aqui não tem nenhuma coitada!!


Meu nome é Cleópatra pelo mesmo motivo que o seu é o que é, um nome que foi escolhido para uma pessoa especial, o filho/filha do seu pai e da sua mãe.

Cléo F. Alves
S. P.
04/11/2013