terça-feira, 22 de abril de 2014

EVIL POISON

A cada vez que penso em você uma gota de veneno se dilui no meu sangue. O paladar azeda e um pânico desagradável tenta fazer morada no meu estômago. E foi assim durante meses, dia após dia, gota após gota que fui me envenenando. Eu fico aqui me embebedando em veneno, morrendo aos poucos e cruelmente. E a vida segue, é lei!!  Dura lex, sed lex! E tem que ser assim mesmo. Legalista que sou, eu jamais poderia me esquecer desta verdade.

Ser sem noção às vezes me parece ser muito bom, não se sente culpa e o dolo deve ser balsâmico e libertador. Não sei por que ainda teimo em me colocar no lugar do outro. Eu e minhas três perguntas chatas “Quero? Posso? Devo?”.

Tanto pensamento triste foi como convidar vampiros para me fazerem companhia. Acordei e ponderei muito se deveria sair. Cheguei a desistir de colocar o pé fora de casa, olhei para o meu cachorro e ele me disse com o olhar que era melhor ficar com ele, mas me forcei a ser forte e honrar o compromisso com quem me confiou uma missão no trabalho.

A 200m de casa levei a primeira fechada de um fdp que deve ter tirado a habilitação em curso de CFC em braille e à distância, mais a frente novamente outra fechada de um outro cretino. Eis o anúncio de um dia cinza-chumbo. Chegando ao trabalho descubro que esqueci meus talheres para almoçar, momentos depois noto que estou indigente, saí sem um mísero documento, sem habilitação, sem documento do carro, sem a carteira do convênio médico que eu precisaria apresentar para realizar um exame médico que me tira o sono desde minha última visita à Dra. Eliana. Vou ao carro e pego a cópia da minha guia, para depois anexá-la ao comprovante de comparecimento (algumas leis na esfera pública mais complicam, do que descomplicam). Como já estava dopada de tanto veneno não notei que deixei a via original da guia na minha mesa. Saio do trabalho mais cedo para voltar à minha casa, me esforçando para lembrar de sacar dinheiro para pagar o estacionamento e lembrar de abastecer o carro.

Chego em casa, pego meus documentos e saio correndo. No autoatendimento uma mulher passou uma vida pagando conta. Isso me irrita! Chame-me de chata, mas conta se paga pela internet!! Depois de uma vida eu saco o dinheiro (Não sei por que diabos estacionamentos não aceitam cartões de débito/crédito. Eu não uso dinheiro!!). No meio da radial leste lembro que não abasteci o carro. Cara#*!!! O marcador de combustível vai caindo até a luz acender, na pista bairro-centro não tem postos de gasolina, só a pista do metrô/trem e nada de um retorno com posto perto. Finalmente um retorno para pegar o primeiro posto, desvio do caminho e sou obrigada a ligar o GPS do celular. Várias ligações do trabalho se abrem na tela atrapalhando que eu veja a rota. Eu não atendo porque não quero me atrasar mais e porque me atrapalho falando ao telefone e dirigindo eu mesmo tempo. Logo que chego ao estacionamento ligo para o trabalho e a colega me diz muito delicada e educadamente que esqueci a guia original na minha mesa e que se eu faria aquele exame eu não conseguiria. Ela bem que tentou me avisar, mas como não atendi...

Considero-me uma pessoa ponderada, centrada e forte, mas com tanto veneno o copo transbordou. Caí no choro bem ali na porta do estacionamento e pedi meu carro de volta ao manobrista, que me olhou com cara de dó. Como eu poderia me apresentar ao trabalho chorosa, nervosa e descontrolada? Bússula quebrada não norteia ninguém!!

Acabou o dia!! De tanto chorar a enxaqueca e a sinusite me fizeram companhia.


Não sei por que eu não escutei o meu cachorro quando saí de casa.


Cléo F. Alves
S. P.
22/04/2014