NERD
Você
sabe de onde vem o termo “NERD”?
Segundo algumas pesquisas que realizei a palavra não tem origem
definida, há uma série de teorias. Em
1951, a Revista Newsweek publicou uma matéria sobre os costumes
conservadores dos jovens da cidade de Detroit, usando o termo NERD.
Coincidência
ou não, em 1950 o escritor americano Theodore Seuss Geisel publicou
o livro infantil “Se Eu Dirigisse o Zoológico”, que apresentava
um personagem esquisitão chamado Nerd.
Há
ainda a teoria de que N. E. R. D. é
uma sigla gravada no bolso da camisa de funcionários da empresa
canadense de telecomunicações Northern
Electric
Research
and Development
(ou Nortel), o
detalhe é que esses funcionários trabalhavam
no laboratório de tecnologia.
Uma
outra teoria cogitada pelo
lingüista
John Robert Schmitz é de que “nurt” é uma gíria da língua
inglesa usada para designar pessoas loucas. Nurt pode ter originado a
palavra “nurd”, usada com o mesmo sentido de nerd.
Aqui
no Brasil o
senso comum entende que NERD
é o nome dado a pessoa que se dedica demais
aos
estudos, tira notas boas na escola, consegue abster facilmente
informações
a partir de leituras e fazer associações com outras situações e
pode ter alguma dificuldade de se relacionar com as pessoas
(geralmente por pura timidez).
Pois
é! Nem eu sabia exatamente de onde veio o termo, nota-se que não é
muito familiar com a língua portuguesa. Ainda assim desde criança
aprendi muito rapidinho o que era ser uma NERD, pois me taxavam como
uma.
Acredito
que NERD não é bem o
que o senso comum prega,
vejo como uma característica de comportamento, modo de vida de
pessoa antenada em
tecnologia,
ciências
ou
que
tem
interesses
muito
específicos,
alguém
que
pode até
não
ir bem na escola em matérias como história e língua portuguesa, é
autodidata, tem seus próprios métodos de aprendizagem e
organização, consegue fazer inferências e
compreende facilmente como a sociedade funciona.
Reitero que
é uma concepção pessoal e
que não vejo demérito algum em pessoas que se encaixam neste
perfil, muito pelo contrário, as
admiro pela autenticidade e determinação pela busca do conhecimento
que muito tem contribuído com a humanidade. Quem
me dera ter cacife para ser nerd.
Nunca
me considerei uma pessoa de inteligência além do normal, sou
esforçada e me dedico. Detesto ter meu nome associado a coisas
malfeitas, sempre senti vergonha de tirar notas baixas e me enfurecia
saber que os colegas foram além de mim. Pensava “Se ele consegue
fazer, consegue entender, consegue se dedicar
eu também consigo”. Meu mundinho adolescente era escola e
“Malhação” (Sim!! Eu adorava ver a novela interminável da
Globo quando a Carolina Dieckman, o Cláudio Heinrich e o André
Marques eram referência adolescente). Meus pais trabalhavam o dia
inteiro e eu só tinha que limpar a casa e tirar notas boas, achava
um trato mais que justo. Pensando assim, minhas notas no ensino médio
eram ótimas, muitos “A” e alguns “B” que eu engolia a seco.
É bom ressaltar que naquela
época se a gente não tivesse frequência e competência repetia de
ano sem dó ou piedade,
os colegas com rendimento sofrível ficavam de recuperação e nem
sempre passavam para a série seguinte. Aquilo sim era escola!
Bobeou, dançou!! Quem não estudava não passava, pronto
e acabou!! Também nunca vi pai/mãe fazer cena com o professor por
causa disso. Hoje em dia.... Melhor nem dizer. Já
adulta eu não tinha mais trato com os meus pais, mas as notas na
faculdade eram boas, cheguei a ver cópias do meu caderno rolando
solto pela sala e ainda me
orgulho de ter sido uma das duas alunas do curso a tirar “10” em
Bases Históricas e Filosóficas da Pedagogia (a
outra colega foi a Claudia Napoleão).
Hoje
na escola me deparei com uma cena que me marcou. Um aluno estava
acalmando o colega que estava à beira de um surto nervoso, ele dizia
ofegante “Não aguento mais!!”. O colega não somente conversava
com o outro para acalmá-lo, como também literalmente o impedia de
fazer uma mer**. Eu e minha colega Rosana ao vermos o garoto
segurando o outro logo nos mobilizamos e pensamos que os dois estavam
se entranhando para partir para a agressão. Ao conversar rapidamente
com os dois percebemos que um estava ajudando o outro. A Direção já
havia se mobilizado antes e achei legal ver o garoto lançar mão de
2.000 argumentos para ajudar o colega. Depois fiquei sabendo que um
terceiro garoto chamou o menino que estava nervoso de NERD.
Puts!
Desde que me entendo por gente as
pessoas medíocres tem o hábito de criar
defeitos nos outros para tentar ocultar a própria dificuldade de
aprendizagem lógico-matemática/linguística/espacial [e dá-lhe
Gardner!!], muito valorizada na escola. Logo, quem entende o conteúdo
proposto em sala de aula ou faz o esforço, se dedica por gostar ou
por ter um acordo como eu tinha com os meus pais e por isso tira
notas boas é taxado pejorativamente como NERD.
Eu
dou minha cara a tapa como esse garoto que chamou o colega de NERD
sequer sabe o que o termo significa. Presumivelmente esse garoto
equivocado sequer tira notas boas por gostar de estudar ou por
entender o que se propõe em sala de aula. É notório que ele não
respeita o modo de ser do outro, não respeita o direito do outro de
estar em sala de aula para estudar e não respeita o direito do
professor de fazer seu trabalho em paz. Enfim, não respeita nada e
nem ninguém.
Eu
não consigo conceber NERD como um adjetivo pejorativo, não consigo
entender qualquer demérito nisso, até mesmo porque entendo NERD
como já descrito “...característica de
comportamento, modo de vida de pessoa antenada em
tecnologia, ciências ou
que tem
interesses muito
específicos,
alguém que
pode até não
ir bem na escola em matérias como história e língua portuguesa, é
autodidata, tem seus próprios métodos de aprendizagem e
organização, consegue fazer inferências
e compreende facilmente como a sociedade funciona.”
É
lamentável ver que alguns adolescentes não conseguem identificar e
aproveitar as oportunidades que lhe são ofertadas e para que elas
servem. Vão à escola e não sabem o motivo, salvo o bolsa família,
leite, tra lá lá...
O
que me consola é que esse povo medíocre que perturba num futuro não
muito distante vai mendigar emprego para um nerd, desejará
celulares, computadores e carros projetados por um nerd, invejará a
prosperidade de um nerd ou terá sua vida ou a vida de uma pessoa querida dependente de um tratamento de saúde que envolve tecnologia que um nerd desenvolveu.
Cléo F. Alves
S. P.
02/08/2013